Amigas do Peito

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12 dezembro 2005

..."Onde em nós a casa mora"

Há já alguns bons anos, minha irmã Madalena, nascida em Moçambique, ofereceu-me um livro de contos de Mia Couto. Ela exultava de tal modo com a escrita e o mundo onírico deste escritor, tão jovem ainda, que fui obrigada a lê-lo. Escusado será dizer-vos que não mais perdi uma única publicação dele.
Mia Couto tem imensos admiradores no meio dos nossos amigos. Não o conhecemos pessoalmente, como não conhecemos Saramago ou Agustina, mas eles fazem parte do nosso acervo afectivo e literário, do quotidiano das nossas conversas, dos nossos pensamentos estéticos, muito para além de meras referências literárias.
Às vezes copio para cadernos algumas das frases dos seus livros, como quando era estudante de liceu. Ontem, ao abrir um desses cadernos, dei com esta fala do Avô Mariano ( cap.4 As Primeiras Cartas, de "Um Rio Chamado Tempo/Uma Casa Chamada Terra") "O importante não é a casa onde moramos. Mas onde em nós a casa mora."
Ultimamente esta ideia tem sido referenciada até no cinema. Em O Fiel Jardineiro, em exibição, o marido diz da mulher morta: "Tess era a minha casa"...
Poucas são as pessoas que conseguem construir os alicerces interiores que lhe permitem ter o "onde em nós a casa mora" pois, podendo esta existir realmente, onde nós quisermos, difícil é colocá-la no mais dentro de nós, dar-lhe espaço carinhoso o suficiente, e arranjar aí nesse imaginário interior, um lugar para nos edificarmos com ela, dentro dela e dentro de nós. Esta casa não está à venda, é imaterial e terna e só permitimos a entrada a quem convidamos com muito amor.

a comentar

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At segunda-feira, 12 dezembro, 2005, Blogger Madalena disse...

Uma coisa é certa: somos irmãs!
Escolhemo-nos para sermos irmãs. Por mais longe que fossem as nossas casas, fomo-nos atraindo pelos tempo e pelas terras até chegar à tua casa, em Almeida, onde me adoptaram. Foi uma graça, no verdadeiro sentido da palavra!
Um beijinho para ti, mana!

 

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